É impossível sequer imaginar a vida sem as emoções. O que seria do ser humano se não pudesse sentir raiva, alegria, amor ou tristeza? A psicóloga, arteterapeuta, e autora do livro infantil “A Casa de Pedro”, Cecília (Ciça) Rocha, explica que as emoções servem a dois propósitos básicos. Primeiramente, funcionam para a manutenção da vida e adaptação ao meio ambiente. Em segundo lugar, atuam como um complexo sistema de comunicação intra e interespécie.
No que diz respeito ao segundo propósito, as emoções acabam tendo grande importância também na formação e manutenção de vínculos sociais, já que estes dependem de um bom processo de comunicação. E, conforme a psicóloga, para o ser humano ter uma boa comunicação, tanto consigo próprio quanto com os outros, ele necessita entender o que determinada emoção quer dizer.
Assim, ressalta a arteterapeuta, é fundamental que as pessoas compreendam que as emoções têm um sentido. Para as crianças, especialmente, que se encontram no início do processo de desenvolvimento emocional e social, conhecer o significado mais profundo das emoções é de grande valia. “Não à toa, sempre oriento os pais a buscarem o significado da emoção que a criança está sentindo . Com isso, suas relações tendem a melhorar muito”, diz.
Cecília relata que gosta muito de pensar nas emoções como visitas que chegam a nossa casa para nos transmitir um recado. “Por isso, em ‘A Casa de Pedro’, quando cada uma das emoções vai até o lar do personagem principal, a semântica delas é explicada. Por exemplo, quando a raiva bate na porta de Pedro, ele diz que quando esta emoção chega é porque está se sentindo injustiçado, agredido ou ofendido”, relata. De acordo com a psicóloga, ao conhecer a voz da emoção, as crianças ampliam o autoconhecimento e consequentemente, aprendem a cuidar melhor de si e do que é importante para elas, de suas necessidades e limites.
Entre as emoções existem aquelas que são desagradáveis de sentir, como a raiva e o nojo, por exemplo. Cecília explica que, mesmos estes sentimentos, apresentam função positiva e a criança estar ciente disso é essencial na aceitação e no gerenciamento destas emoções. “Essa concepção e aprendizagem liberta. Passamos a receber as visitas das emoções de uma forma mais amorosa, como se, com isso, pudéssemos ficar amigos delas. Assim seguimos mais tranquilos e em paz com nossas emoções e, consequentemente, com a gente mesmo”, afirma.
Segundo a arteterapeuta, a família exerce um papel importante para auxiliar a criança a compreender o sentido profundo das emoções, principalmente daquelas experimentadas como desagradáveis. Os pais desempenham essa função aceitando e validando as emoções de seus filhos. “Naturalizar o sentir traz um alívio profundo para a criança e para a família. Tira uma carga grande dos ombros, de inadequação, de menos valia que podemos desenvolver quando julgamos ser errado o que sentimos”, explica.
Ao demonstrar empatia e compreensão, os pais abrem um canal de comunicação, que é de grande valia para que as crianças lidem melhor com suas emoções. Isso passa também por buscar entender o sentido de suas próprias emoções e guiar a criança no processo de escutar o que determinada emoção que ela está sentindo significa. “Entender o sentido, ou seja, a semântica de cada emoção nos aproxima de quem está sentindo. É como se passássemos a falar a mesma língua. A criança sente isso, sente-se validada, vista e segue mais forte e confiante”, ressalta.
Não obstante a importância de auxiliar as crianças a compreenderem o sentido de suas emoções, nem sempre, para os pais, é fácil fazê-lo. Isto porque, de acordo com a psicóloga, a geração de pais de hoje, muitas vezes, não teve esse aprendizado na infância. “Esse olhar para as emoções, essa atenção, por exemplo, que muitas escolas passaram a dar para a educação emocional é muito recente”, diz. Dessa forma, comenta Cecília, é comum que muitos pais não saibam ajudar seus filhos neste quesito, pois estão também sendo iniciados no assunto.
Para ajudar os pais nessa empreitada, há, na atualidade, além de muitos programas de educação emocional, livros sobre o assunto, afirma a arteterapeuta. “Meu livro ‘A Casa de Pedro, por exemplo, aborda esse tema e inclusive tem também um caderno de exercícios que facilita a aprendizagem desses conceitos para as crianças e família”, diz. Cecília ressalta ainda a importância do processo psicoterapêutico nesse sentido. “Ele nos auxilia a ficarmos mais íntimos de nosso mundo interno, para que possamos abrir a porta quando alguma emoção bater e ouvir o que cada uma tem a dizer”, finaliza.
Minibio Cecília Rocha
- Psicóloga
- Especialista terapia comportamental pela FMUSP
- Arteterapeuta
- Mediadora de conflitos