Os estúdios de gravação das Fábricas de Cultura contribuem para democratizar a produção de áudio e gerar uma onda de possibilidades criativas para todos os artistas independentes, através das captações, gravações, edições e masterização de músicas, podcasts, e-books, audiobooks, locuções, jingles e vinhetas. O acesso aos estúdios é gratuito, assim os criadores podem se concentrar em refinar as habilidades e explorar novos territórios sonoros. Além disso, as Fábricas são um próspero centro de conhecimento, colaboração e inspiração, com técnicos de som dedicados a ajudar os usuários a obter o máximo da estrutura e do software, somado ao lado humano de potencializar sonhos.
Para o técnico de som, Natan Siqueira da Silva, a arte é “agente de mudança”. Natan perdeu os pais cedo e os familiares não puderam ficar com ele e com os dois irmãos. Eles passaram por vários orfanatos e Febens – Febem – Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor. Natan passou pela antiga Febem, onde, atualmente, é o edifício que funciona como a Fábrica de Cultura Parque Belém. “Tinha uma sensação de rejeição familiar, oque foi mudando minha mentalidade para começar a me desprender e começar a viver, foi a cultura”, cita Natan. Ele começou a fazer break dance e, através da dança, teve noção rítmica e musical. Fez aula de música e teve uma escola de canto. “Hoje, trabalho na Fábrica de São Bernardo do Campo. E quando penso na Fábrica de Cultura Parque Belém, fico feliz em ver que o local que fiquei ‘internado’ lá trás, ajuda tantas pessoas nos dias atuais”.
Natan reforça que sempre olha a parte humana das pessoas quando atende. “Trabalho com o que amo fazer. Vem pessoas de várias condições sociais e financeiras. Coloco-me no lugar, pois passei por estas situações. Quando o artista vai gravar é como se fosse gerar um filho, é algo que está na mente e deseja passar para o som. Tento entendê-lo para materializar a ideia e ajudá-lo na realização dos sonhos”.
Dentro dos estúdios, há instrumentos para uso, como guitarra, bateria, contrabaixo, violão, cavaquinho, controlador MIDI, entre outros. “Nosso objetivo é ser um caminho de oportunidade para o artista gravar a música dele. Cada Fábrica tem um estilo predominante, na Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes, por exemplo, são: rap, trap e funk. É tudo feito com muito carinho”, comenta o técnico de som Leonardo Liolino, da Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes.
Marília Marton, Secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, enfatiza a importância de profissionais qualificados. “Nas Fábricas de Cultura, os jovens estabelecem conexões significativas que impulsionam seus projetos pessoais, fomentando um sentimento de pertencimento e comunidade. À medida que a tecnologia avança, a paisagem sonora se torna mais vasta e diversificada, graças a softwares que permitem a precisão na manipulação de sons, incluindo equalização, compressão, reverberação e modulação, abrindo novas perspectivas de expressão. Nas Fábricas, o desenvolvimento humano, a autoaceitação e a confiança adquiridas estão intrinsecamente ligadas à capacidade dos jovens de compartilhar seus conteúdos e estabelecer, constantemente, metas de vida.’’
Quem é a galera que cria ou criou arte nos estúdios?
Um exemplo de podcast gravado no estúdio da Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha é o Podcast Vida de 3, cuja apresentação é feita por três crianças: Camila (Cammi – 9 anos) Leonardo (Leocarl) e Felipe (Fepmel), ambos com 11 anos. Os pais incentivaram, Ricardo Cardoso, pai do Leonardo, e Diogenes Lima de Melo, pai do Felipe e da Camila, amadureceram a ideia da criançada e buscaram fazer a gravação do programa, de maneira profissional, na Fábrica. “Se tivesse nota 20, eu daria, pois os estúdios são muito bem equipados e todo o atendimento é feito com muita prestatividade”, cita Ricardo.
As três crianças destacam que a Fábrica não é apenas para gravar, mas sim, para conversar e fazer amizades. Além de usar os estúdios, o Leo faz karatê, a Camila faz circo, atualmente, nas Fábricas e o Felipe passou pela oficina de desenho.
E outro talento, é Bárbara Moura, mais conhecida como Fanieh, ou até MC Luzi por atuar na série Sintonia da NETFLIX, ela é da região de Guaianazes. A cantora, compositora e atriz utiliza da arte periférica para empoderar outras mulheres. Foi aprendiz de diversos ateliês na instituição e a primeira vez que subiu em um palco para cantar foi no teatro da Fábrica de Cultura e, também, foi onde iniciou o contato com um estúdio de gravação. E, ainda, o primeiro trabalho foi nesta unidade, como jovem aprendiz.
“Devo muito da minha personalidade artística e pessoal ao período em que frequentei as Fábricas. O acesso à informação, a cultura e a socialização dentro da comunidade contribuíram para meu desenvolvimento como cidadã e artista em várias questões, como na oratória e criatividade, além de entender que nada é impossível, mesmo você sendo de periferia”, reforça Fanieh.
Já Fábio Tuono, artista independente, usou o estúdio da Fábrica Parque Belém para gravar músicas autorais. Ele foi vocalista em algumas bandas e a Fábrica o inspirou a manter o trabalho de cantar solo no projeto “Tuono”. “Quando criança participei do Guri, no curso de violino. E a segunda grande iniciativa que participei foi a Fábrica de Cultura, pois é aberta ao público, não tem ‘travas sociais’, senti-me incluído. O Carlos, técnico de som, na época, deu-me uma visão da produção musical de maneira diferente”, menciona Fábio.
A versatilidade das Fábricas vai além da produção musical, há cursos de maker, robótica, drones e games, os quais interagem com as demais aulas, como dança, música, teatro, audiovisual e circo.
Onde ouvir e ver os trabalhos dos artistas mencionados?
Fanieh
Na série Sintonia disponível na Netflix, no programa É o Fluxo pela Multishow e em todas as plataformas digitais. Redes sociais: @faniehoficial no Instagram e @faniehoficiall com dois L no Tik Tok.
Podcast Vida de 3
YouTube: @vidade3
Instagram: vida.de.3
TikTok: @vida.de.3
Tuono – Transbordando
Spotify: Link
Como é feito o agendamento nos estúdios de gravação?
Os estúdios de gravação do Setor A, Fábricas gerenciadas pela Catavento Cultural e Educacional, entram na parte de cessão de espaços. O artista procura a equipe de promoção e articulação da unidade e faz o agendamento pessoalmente ou por telefone na unidade de preferência. O espaço pode ser usado por 2 horas. É realizada a gravação da voz e o técnico entrega a mixagem pronta para a pessoa. Crianças, jovens e adultos podem usar (é orientado que menores de idade estejam acompanhados de um adulto responsável).
Cada usuário tem direito a 2 gravações por mês, porém não no mesmo dia, pode ser na mesma semana. Caso seja um projeto maior, pode ser agendado mais de 2 vezes no mês.
Horário: As Fábricas ficam abertas das 9h às 18h. Os estúdios funcionam das 10h às 17h. Cada agendamento tem duração de 2h, os horários disponíveis são: das 10h às 12h; das 13h às 15h e das 15h às 17h.
Mais informações: Link – Fábricas de Cultura Zona Leste (Vila Curuçá, Sapopemba, Itaim Paulista, Parque Belém e Cidade Tiradentes), São Bernardo do Campo e Santos. E nas Redes Sociais: @fabricasdecultura
Já os estúdios de gravação das Fábricas de Cultura do Setor B, Fábricas gerenciadas pela Poiesis, oferecem o serviço de captação de áudios e mixagens para a população, priorizando o atendimento dos moradores dos territórios. Devido à alta demanda, é necessário preencher uma ficha de inscrição pessoalmente na unidade de interesse. Os interessados apresentam a descrição do tipo de atendimento que desejam realizar para uma análise prévia dos técnicos os quais avaliam se a solicitação é factível com a disponibilidade estrutural e técnica.
Além de aprendizes matriculados nos ateliês e trilhas, as pessoas não matriculadas podem usar os estúdios para gravar e mixar os projetos. Não tem limite de uso do estúdio. Todas as pessoas podem usar. Quem tem menos de 18 anos deve ter autorização dos responsáveis para conseguir concretizar o agendamento.
Horário: Os horários de agendamentos para usar os estúdios são os horários de funcionamento das unidades: De terça a sexta, das 9h às 19h.
Obs: Unidades Iguape e Vila Nova Cachoeirinha, das 9h às 21h; Unidade Jaçanã, das 9h às 20h30; Unidade Osasco, das 9h às 21h (terças, quintas e sextas) e das 9h às 19h (quartas); Sábados, das 9h às 17h e Domingos, das 12h às 17h; *Unidades Iguape e Diadema funcionam das 12h às 17h aos sábados e não abrem aos domingos.
Cada pessoa pode usar o estúdio por 4 horas, desde que tenha agendado previamente, e o foco é a gravação de faixas (singles).
Destaca-se que a equipe de biblioteca da Fábrica de Cultura Diadema entrou nesse universo com o podcast PodTudo!Podtudo? ampliando os debates sobre literatura, universo LGBTQIAP+ e feminismo. Publicado mensalmente no perfil das Fábricas de Cultura no SoundCloud, os episódios têm apresentadores rotativos e contam com a participação de funcionários de outros setores das Fábricas e externos.
Mais informações: Link – Fábricas de Cultura das zonas Norte (Brasilândia, Jaçanã e Vila Nova Cachoeirinha) e Sul (Jardim São Luís e Capão Redondo), Diadema, Osasco e Iguape. E nas Redes Sociais: @fabricadeculturasp