O Museu Judaico de São Paulo (MUJ) apresenta, a partir de 5 de agosto, a exposição “Marcelo Brodsky: Exílios, Escombros, Resistências”, uma retrospectiva da carreira do fotógrafo argentino cuja obra tem desde de sempre uma forte carga política. Com curadoria do crítico Márcio Seligmann-Silva, os trabalhos tocam temas sensíveis como memória, resistência e direitos humanos por meio de fotografias, vídeos e instalações.
Descendente de judeus russos emigrados na Argentina, Brodsky nasceu em Buenos Aires em 1954 e começou a fotografar na década de 1980, período em que esteve exilado em Barcelona por conta da ditadura militar em seu país natal. Na Espanha, enquanto cursava economia e fotografia, começou uma série de registros fotográficos em torno da imigração, tema presente em toda sua carreira. “Como artista judeu, necessito de imagens para expressar a importância da memória e explorar a relação com o tempo presente”, declara Brodsky.
Com ampla presença internacional, com exposições e obras no acervo de renomados museus, ao longo de 40 anos de carreira, o fotógrafo argentino resgatou, curou e ressignificou as fotografias, transformando os registros, de anônimos a familiares (como retratos de seu irmão, desaparecido na ditadura), em um trabalho gráfico que envolve cores, marcações e legendas. “Todo o trabalho procura constituir uma linguagem visual para contar a história e transmitir a experiência através das gerações”, completa.
“A obra de Brodsky nasce de sua trajetória como exilado político, onde cruzam-se histórias de violência e destruição que desenham um painel da Modernidade, sendo um local de aniquilação, mas também palco de lutas, de sonhos e de utopias.”, pontua o curador sobre o artista, que trabalha na zona de encontro entre arte, história, arquivo e circuitos de informação. O caráter revolucionário da fotografia como registro contra o esquecimento é ressaltado pelo curador no texto expositivo. “Marcelo Brodsky é um artista fotógrafo, além de colecionar, ele intervém em outras fotografias, escrevendo, desenhando”.
Pensada em três eixos, a exposição traz a questão dos ‘Exílios’ como o primeiro deles, em séries como ‘Migrantes – No mediterrâneo’ e ‘Abrir as Pontes’, sobre problemas humanitários e a questão dos refugiados. No segundo eixo, ‘Escombros’, ele traz outra série, “Remains – Escombros – AMIA’, referente ao ataque terrorista sofrido pela Asociación Mutual Israelita Argentina em 1994, que deixou 85 mortos.
Já em ‘Resistências’, o terceiro eixo, abre-se uma nova perspectiva para além das histórias de violência captadas por suas lentes, como por exemplo: intervenções onde aparecem injustiças durante o período da ditadura na América Latina, questões de gênero e raciais nos Estados Unidos e no mundo afora.
Na série ‘1968, O Fogo das Ideias’, feita entre os anos de 2014 e 2018, o fotógrafo trabalha com dezenas de imagens de arquivo das mobilizações estudantis e operárias ocorridas em todo o mundo naquele ano emblemático. “Brodsky faz conexões entre os sonhos e as manifestações. A resistência e as lutas”, pontua Seligmann-Silva.
A exposição traz ainda sua obra ‘Buena Memoria’, de 1997, até uma de suas séries mais recentes, ‘Traces of Violence’, de 2021, que mostra fotografias do genocídio que aconteceu na Namíbia no início do século 20, à época colônia alemã na África. A partir dessas imagens, o fotógrafo trabalha com uma série de apropriações e inserções nos registros históricos para falar de colonialismo, tema candente explorado em outros projetos ao longo de sua carreira. Um deles, pensado para a exposição, é uma série com oito fotografias e dois vídeos realizada em parceria com o artista visual e arte educador Moisés Patrício.
A memória da ex-deputada Marielle Franco, brutalmente assassinada em 2018, também está presente na mostra. A fotografia de Marielle Franco, realizada por Bernardo Guerreiro, foi multiplicada em diferentes cores ao estilo das séries Death and Disasters, de Andy Warhol. “Ao introduzir no contexto da exposição, essa fotografia emblemática de Marielle articula-se outra vez uma série de luta, de gênero e pela igualdade”, diz o curador Marcio Seligmann.
O espaço expositivo conta com 130 fotografias, além de uma intervenção, desta vez na fachada do MUJ, que usa imagens recortadas para formar a Estrela de David, símbolo da cultura judaica. “A memória é tratada aqui como uma lei: ‘não esquecereis’”, pontua o curador. A exposição foca também em obras com a temática do judaísmo, ao lado de produções que tratam imigração, do drama dos refugiados e questões diaspóricas. Nome conhecido pela fotografia itinerante, Brodsky traz registros de sua peregrinação por países da América Latina e do mundo.
Há também imagens que trazem períodos sombrios na história do povo de Israel, como na obra ‘Os Campos’, em que Brodsky apresenta a foto de uma placa com a lista dos campos de tortura e desaparecimento instituídos na Argentina durante a última ditadura – ao lado de uma placa semelhante da Wittenbergplatz, em Berlim, onde está uma lista dos campos de concentração e de extermínio criados pelos nazistas.
“Grande parte da produção é constituída de registros analógicos, conservados como se Brodsky fosse um arquivista profissional”, pontua o curador, sobre a técnica desenvolvida pelo artista, “um colecionismo crítico de imagens dos séculos 20 e 21.” E completa: “Brodsky se articula com ongs e organizações de direitos humanos pela memória e pela justiça”, concluiu o curador sobre o ativismo do artista.
Marcelo Brodsky: Exílios, Escombros, Resistências
Abertura: 05 de agosto, às 11h
Período expositivo: 05 de agosto a 05 de novembro
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 19 horas (última entrada às 18h30), exceto de quinta-feira, que abre ao meio-dia e fecha às 21h
Ingresso: R$ 20 inteira; R$10 meia. Sábados Gratuitos
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida