O Museu de Arte Moderna de São Paulo, em parceria com o SESI-SP, apresentará uma exposição inédita com obras do acervo do MAM na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, a partir de 26 de março. A mostra MAM São Paulo: encontros entre o moderno e o contemporâneo tem curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda e reúne mais de 100 obras da coleção do museu.

Entre os destaques, estão obras já conhecidas do público, como Paisagem (1948), de Tarsila do Amaral; Peixe na praia (1933), de Di Cavalcanti, e Onça (1930), de Victor Brecheret, ao lado de outros modernistas – Alfredo Volpi, Ismael Nery e Cândido Portinari. Grandes nomes da arte contemporânea também terão trabalhos em exibição, é o caso de artistas como Mira Schendel, Leonilson, Carmela Gross, Tunga, Leda Catunda e Cildo Meireles – este último, com escultura doada recentemente ao acervo do museu. Além disso, a mostra conta com obras de artistas internacionais, como León Ferrari e Raoul Dufy.
A exposição trará outras obras recém incorporadas pelo museu, a maior parte vinda de uma doação recebida em 2024. “Trata-se de um conjunto muito relevante, com obras contemporâneas e modernistas que complementam o acervo do museu e são fundamentais na exposição atual. Há inclusive trabalhos de artistas do modernismo europeu de que o MAM ainda não tinha nenhuma obra, como Yves Klein e Henry Moore”, explica Cauê Alves, curador-chefe do museu, responsável pela exposição ao lado de Gabriela Gotoda.
Um dos destaques nas doações recentes é a aquarela Vaso de Anêmona, do francês Raoul Dufy, datada de 1937. Recebida a doação via legado, o museu contratou uma perícia profissional para conduzir um processo técnico-científico de confirmação de autoria. O trabalho foi conduzido pelos peritos Gustavo Raul Perino, da Givoa Art Consulting, e Anauene Dias Soares, da Anauene Art Law.
A obra foi identificada por uma historiadora francesa contratada pela consultoria, que fez checagens na versão original física do catálogo raisonné de Dufy, já que a versão online não continha a aquarela. O único outro exemplar da obra de Dufy em coleções institucionais no Brasil está no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP).
A exposição também traz um esforço em parceria com o setor Educativo do MAM para elucidar os conceitos de arte moderna e arte contemporânea. “São conceitos que muitas vezes parecem sinônimos, e que podem ser difíceis de distinguir. Muitas vezes se chega a um museu de arte contemporânea e ele tem obras de arte moderna. Retomamos as questões mais comuns identificadas pela equipe do MAM Educativo e vamos usar a oportunidade de trabalhá-las para dar ao público mais autonomia na compreensão da história da arte”, diz Gabriela Gotoda, co-curadora.
Encontros entre o moderno e contemporâneo
O partido curatorial buscou explorar as diferenças e semelhanças entre a arte moderna e a contemporânea, criando aproximações e diálogos entre essas duas noções e os seus momentos na história da arte brasileira.
A exposição pretende levar o público à reflexão sobre como as sobreposições de assuntos, linguagens ou processos nas obras tipicamente caracterizadas como modernas ou contemporâneas demonstram as semelhanças e diferenças entre elas, tensionando a distância entre os dois termos — moderno e contemporâneo — de modo a questionar definições precisas na história e nos dias atuais.
A convergência e mistura existentes entre esses dois momentos históricos da produção artística são notórias tanto em seus desdobramentos no tempo quanto na produção crítica a respeito delas, e também estão refletidas no acervo do MAM. No Brasil, em especial, a produção dita contemporânea pode ser considerada um desdobramento de uma das últimas vanguardas modernistas, o construtivismo pós-Guerra, característica que dificulta o estabelecimento de uma divisão ou sequência cronológica entre as duas definições.
Se o início da arte moderna supostamente se deu com as vanguardas europeias na virada do século 20, a produção dos modernistas brasileiros se estendeu pela maior parte daquele século, muitas vezes simultaneamente ao desenvolvimento de novas linguagens e técnicas exploradas na produção mais contemporânea.
A narrativa histórica sobre a arte moderna no Brasil por muito tempo ignorou a produção de artistas hoje denominados populares, como José Antonio da Silva, Iracema Arditi e Heitor dos Prazeres. Contemporâneos de grandes nomes do modernismo brasileiro, esses artistas não são amplamente vinculados à arte moderna justamente porque não são acomodados com facilidade nos partidos estéticos e conceituais das vanguardas.
Partindo desse reconhecimento, a exposição busca contribuir com a discussão sobre as narrativas históricas da arte moderna da arte contemporânea, assim como a percepção sobre a passagem do tempo entre elas.
Certamente há diferenças históricas e teóricas que merecem ampla discussão, mas, afinal, é possível traçar com precisão a fronteira visual e temporal entre a arte moderna e a arte contemporânea? De que modo isso se relaciona com a percepção do tempo histórico, e do tempo vivido? A exposição aponta para essas questões, não para respondê-las definitivamente, mas sim para contribuir com outras formas de abordagem, oferecendo ao público autonomia para se surpreender com as reflexões despertadas pela arte, seja de qual tempo ela for.
Lista de artistas
A exposição reúne obras de Alberto da Veiga Guignard, Aldo Bonadei, Alex Cerveny, Alfredo Volpi, Anna Maria Maiolino, Ana Maria Tavares, André Komatsu, Antonio Henrique Amaral, Antonio Manuel, Antonio Dias, Arthur Luiz Piza, Artur Barrio, Beatriz Milhazes, Candido Portinari, Carlos Fajardo, Carlos Vergara, Carmela Gross, Cildo Meireles, Claudio Tozzi, Eduardo Berliner, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Evandro Carlos Jardim, Farnese de Andrade, Ferreira Gullar, Flávio de Carvalho, Flávio Shiró, Francisco Rebolo, Franklin Cassaro, Geraldo de Barros, Haruka Kojin, Heitor dos Prazeres, Hélio Oiticica, Henry Moore, Hércules Barsotti, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Iracema Arditi, Ismael Nery, John Graz, José Antonio da Silva, José Pancetti, Leda Catunda, León Ferrari, Leonilson, Letícia Parente, Lívio Abramo, Luiz Sacilotto, Marcello Grassmann, Marco Paulo Rolla, Mary Vieira, Mira Schendel, Oswaldo Goeldi, Raoul Dufy, Rodrigo Matheus, Rogério Canella, Rubens Gerchman, Samson Flexor, Sandra Cinto, Sérgio Camargo, Shirley Paes Leme, Siron Franco, Tadeu Jungle, Tarsila do Amaral, Thiago Rocha Pitta, Tunga, Victor Brecheret, Willys de Castro e Yves Klein.
MAM São Paulo: encontros entre o moderno e o contemporâneo
Abertura para convidados: 25 de março de 2025, terça-feira, às 19h
Período expositivo: 26 de março a 08 de junho de 2025
Local: Centro Cultural Fiesp | Galeria de Arte
Endereço: Av. Paulista, 1313 – Bela Vista, São Paulo
Horários: de terça a domingo, das 10h às 20h
Entrada gratuita