Como o vício em apostas esportivas está destruindo vidas e finanças de milhões de brasileiros

Olhos voltados para a telinha do celular. No visor, dezenas de partidas dos mais variados esportes aparecem como alternativa para se tornar uma fonte rápida de ganho, dependendo da escolha pelo time vencedor ou então por uma combinação de resultados. Basta um clique. Mas dificilmente se resume em apenas um clique e pode se transformar em um pesadelo.

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O vício em apostas esportivas, popularmente conhecidas como bets, e também em outros jogos populares, como o ‘jogo do Tigrinho’, tem se tornado uma preocupação crescente no Brasil. Na expectativa de lucrar rapidamente, muitos brasileiros acabam caindo na armadilha dos jogos, ocasionando sérios problemas financeiros, emocionais e familiares.

Psicóloga especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT), Êdela Nicoletti, alerta: “O vício em apostas é uma doença silenciosa que pode destruir vidas. É essencial que as pessoas busquem ajuda antes que seja tarde demais.”

Estudos mostram que a regulamentação por parte do governo e a fiscalização são passos fundamentais para mitigar os riscos associados ao vício em apostas. A psicóloga Êdela Nicoletti reforça a importância de campanhas educativas e políticas de jogo responsável: “Precisamos de uma abordagem multifacetada que inclua educação, regulamentação e apoio psicológico para aqueles que já estão viciados.”

Vinicius Dornelles, sócio de Êdela e especialista em saúde mental, também destaca a importância da conscientização pública: “Muitas vezes, a falta de informação sobre os danos psicológicos e financeiros das apostas impede que as pessoas reconheçam os primeiros sinais de dependência. Precisamos investir em iniciativas de prevenção que cheguem a todas as camadas da sociedade.”

Nos últimos cinco anos, 52 milhões de brasileiros já se aventuraram nas bets. Somente em 2024, são 25 milhões (após a sanção da Lei 14.790/2023, que regulamentou a atividade no Brasil). Para esmiuçar este cenário, recente pesquisa desenvolvida pelo Instituto Locomotiva com 2.060 pessoas traçou o perfil dos apostadores no País: 53% são homens e 47% são mulheres; a maioria está na faixa etária de 30 a 49 anos; oito de cada 10 são pessoas das classes C, D e E; e dois em cada 10 são classe A ou B.

A pesquisa foi além, mostrando que 51% dos entrevistados acredita que o jogo aumenta a ansiedade, 27% afirmaram que o ato causa mudanças repentinas de humor, 26% indicaram que gera estresse e 23% que proporciona o sentimento de culpa.

Entre aqueles que efetivamente fazem apostas online, 60% admitem que causa algum efeito no estado emocional, motivando sentimentos negativos como ansiedade (41%), estresse (17%) e culpa (9%). Por outro lado, também foram relatadas positivamente a emoção (54%), a felicidade (37%) e o alívio (11%) como consequências positivas. E 42% ainda disseram que as apostas “são uma forma de escapar de problemas ou emoções negativas”.

Um ponto notório na pesquisa foi o descontrole causado pelas bets: 45% dos entrevistados que fazem uso das apostas online admitem que as mesmas “já causaram prejuízos financeiros”, 37% dizem ter usado “dinheiro destinado a outras coisas importantes para apostar online” e 30% afirmaram ter “prejuízos nas relações pessoais”.

Já com relação à parte financeira, foi verificado que 86% das pessoas que apostam têm dívida e que 64% estão negativadas na Serasa. Para Êdela Nicoletti, é preciso ficar atento aos sinais de que o jogo está se tornando vício. “Um importante sinal sobre problemas com apostas é a observação do momento no qual começa a ser necessário aumentar o tempo de envolvimento ou o montante apostado para se ter uma sensação similar a que se tinha no início do uso das bets. Outro fator importante a se considerar é o quanto a pessoa começa a direcionar as suas ações para poder usar a bet. Por fim, um terceiro sinal importante é a intensidade da resposta emocional envolvida no comportamento de apostar”, alerta o especialista.

O governo federal está implementando a regulamentação das casas de apostas. A ideia é que, a partir de janeiro de 2025, apenas empresas que cumprirem todas as exigências legais poderão operar no país, mediante adoção de políticas rigorosas contra fraudes e lavagem de dinheiro.

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