Um dos maiores clássicos da literatura mundial ganhou montagem teatral inédita, capaz de arrebatar diferentes as gerações. Após uma curta e celebrada passagem pelo Rio de Janeiro, o espetáculo Os Irmãos Karamázov, com adaptação de Caio Blat e Manoel Candeias para o romance do autor russo Fiódor Dostoiévski, chega aos palcos de São Paulo para uma temporada de 27 de fevereiro a 30 de março no Sesc Pompeia. Apontada por Freud como uma obra-prima da humanidade, a trama retrata uma família desestruturada, marcada por paixões, disputas financeiras, dilemas existenciais e um pai perverso.

Dirigida por Marina Vianna e Caio Blat, a montagem traz diálogos ágeis, cenas intensas e um elenco diverso.
O elenco responsável por dar vida e alma aos personagens de Dostoiévski é formado por Babu Santana, Luisa Arraes, Sol Miranda, Nina Tomsic, Pedro Henrique Muller, Lucas Andrade, além dos diretores Caio e Marina, que também atuam. Na encenação, a escolha do elenco não se ateve ao gênero dos artistas em relação aos personagens descritos. “Dostoiévski é, se não o maior, um dos maiores autores sobre a alma humana. São questões que não poderiam ser restritas a um gênero. Então a gente quis borrar essas fronteiras, mas as mulheres não estão interpretando homem, e os homens não estão interpretando mulher. Aqui são atores e atrizes fazendo seres humanos. O que prevalece sobre um personagem não é se ele é homem ou mulher, mas sim o que ele está buscando, qual é sua ânsia, qual é sua fúria. São questões de cada ser humano”, explica a atriz Luisa Arraes.
Ambientado na Rússia pré-revolucionária, o espetáculo traz para o palco temas atemporais como culpa, justiça, autoritarismo e a busca por libertação de figuras opressoras, simbolizada no desejo dos filhos de destruir o pai corrupto. O espetáculo explora essas questões com linguagem acessível e popular, aproximando-se dos temas que assolam a sociedade brasileira.
Além do elenco, estarão em cena os músicos Arthur Braganti (também diretor musical do espetáculo) e Thiago Rabello; as artistas-intérpretes de libras Juliete Viana e Maria Luiza Aquino; e Sofia Badim, assistente de direção que também apoia o elenco, compondo um grupo heterogêneo de 13 atores que se revezam para contar essa história, ora em coro, ora individualmente, com seus corpos e funções diversos.
A adaptação é fruto de 10 anos de estudo de Caio Blat e Manoel Candeias sobre a obra de Dostoiévski e o romance, além de quatro meses de um intenso processo criativo, com o elenco e o grupo de artistas envolvidos para a realização do espetáculo. Isabela Capeto assina a direção de arte e o figurino; Amália Lima, a direção de movimento; Arthur Braganti, a direção musical e trilha sonora original; Gustavo Hadba e Sarah Salgado, o desenho de luz; Moa Batsow, a cenografia; Raissa Couto, a acessibilidade criativa; com a direção de produção de Maria Duarte.
Embora hoje seja considerado erudito, Dostoiévski foi um escritor popular e acessível. O romance Os Irmãos Karamazov foi publicado originalmente como folhetim, uma novela em capítulos no jornal. A montagem pretende popularizar o escritor e a sua obra no Brasil. Segundo Maria Duarte, para se produzir um espetáculo para o grande público, além da proposta artística da encenação, é preciso pensar na acessibilidade de fato.
A acessibilidade como pilar criativo
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), há mais de 1,3 bilhão de pessoas com deficiência em todo o mundo. A produtora propõe a criação de um projeto inovador e ousado, que pensa a acessibilidade criativamente, entrelaçada de forma orgânica com a dramaturgia e a encenação. Todos os pilares criativos do espetáculo foram convocados – do figurino à comunicação – para o desafio de criar um espetáculo para todos, de fato.
Fugindo do literal e do óbvio, a montagem inclui artistas intérpretes no elenco e o uso da língua brasileira de sinais nos diálogos e na composição do gestual da encenação, além de soluções que incluem efeitos sonoros, suportes táteis, comunicação acessível e outras iniciativas inéditas. Para esse desafio, o projeto conta com a direção de Raíssa Couto e o envolvimento de uma equipe de consultores, com e sem deficiência, envolvidos desde o início do processo criativo.
A produção envolveu artistas com deficiência, que atuaram ativamente no processo criativo desde a montagem do espetáculo, como a consultora Moira Braga e a bailarina intérprete Maria Luiza Aquino.
Assim como a criação do espetáculo, a divulgação também considera a acessibilidade integrada. A proposta é que pessoas com deficiência também se sintam convocadas a ir ao teatro, engajando um público ainda mais amplo na formação de plateia. Nesse contexto, o projeto conta com a parceria de instituições como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), o Instituto Benjamim Constant (IBC) e o Conselho da Pessoa com Deficiência do Município do Rio de Janeiro, bem como artistas influenciadores com deficiência.
Figurinos como obras de arte e uma nova forma de fazer
Isabela Capeto assina a direção de arte e figurino do espetáculo, fazendo coro à linguagem contemporânea e inovadora proposta pela direção. Reconhecida pelo maximalismo e o uso abundante de cores em suas coleções, Isabela apresenta um conjunto de figurinos brancos, produzidos artesanalmente, a partir de material de origem sustentável.
A criação dos figurinos partiu da sugestão da obra “Branco sobre Branco”, de Malevich, além de outras referências visuais sugeridas pelos diretores Caio Blat e Marina Vianna, e mobilizou a estilista para uma imersão sobre o romance e os personagens.
Visando a economia de recursos e considerando os impactos negativos da indústria têxtil no planeta – que, somente no Brasil, gera 175 mil toneladas de resíduos por ano – a produção do espetáculo procurou a Oficina MUDA, empresa que promove a economia circular e a gestão dos resíduos sólidos da indústria têxtil brasileira, para estabelecer uma parceria em prol dos figurinos e do cenário do espetáculo. A proposta foi acolhida com entusiasmo pela fundadora e diretora criativa Larissa Greven, e o que poderia ser visto como uma dificuldade para a equipe de figurino foi o que mais entusiasmou a estilista Isabela Capeto.
A polifonia na montagem teatral
Segundo Mikhail Bakhtin, filósofo e pensador russo, teórico da cultura e das artes e pesquisador da linguagem humana, Os Irmãos Karamazov é um acontecimento literário polifônico. A imagem da polifonia, conceito originalmente desenvolvido na música, se refere às múltiplas vozes e perspectivas que colidem sem um único ponto de vista dominante, como a do narrador, tradicionalmente. Esta característica marcante da obra de Dostoiévski norteou a criação cênica e toda a direção musical do espetáculo.
De forma contemporânea e também inovadora, a montagem espera levar para os palcos a polifonia característica da obra de Dostoiévski.
Sinopse
O espetáculo se passa na Rússia pré-revolucionária e acompanha as disputas entre os irmãos Karamázov e seu pai, Fiódor, pela herança da família e pelo amor da mesma mulher. Nesse caldeirão explosivo de ressentimentos familiares, cada um dos irmãos colabora de sua maneira para o mais temido desfecho: o assassinato do pai tirano com a participação ou omissão de cada um de seus filhos.
Os Irmãos Karamázov
De Fiódor Dostoiévski
Temporada: 27 de fevereiro a 30 de março
Dias da semana: de quinta a domingo
Horário: 20h (de quinta a sábado) e 17h (domingo)
Sesc Pompéia – Teatro
Ingressos: R$70 (inteira), R$35 (meia) e 21 reais para associados do SESC.
https://www.sescsp.org.br/programacao/os-irmaos-karamazov
R. Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3871-7700
Classificação indicativa: 16 anos
Lotação: 668 lugares
Gênero: Teatro
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